terça-feira, abril 05, 2016

Caminho inglês, para Santiago de Compostela

Foi de 30 de março a 3 de abril, que me juntei com o meu Idílio a um grupo de 22 peregrinos e fizemos o caminho inglês de Santiago começando em Ferrol.

Fazer este caminho foi para mim um misto de emoções e de sensações.
Inicialmente, muito medo de não ser capaz de percorrer os 121km e ter de me render à carrinha de apoio, pela minha falta de treino físico para o caminho. Seria uma vergonha para mim própria.
Quando comecei a caminhar no primeiro dia, debaixo de chuva durante 12km, com água por todos os lados, fartei-me de rezar a Santiago para que a chuva parasse nos próximos dias e que me desse ânimo... cheguei ao albergue muito desiludida e sempre a perguntar-me para mim mesma: "será que vou conseguir?", "Será que amanhã vou conseguir levantar-me?", "E se tenho uma crise intestinal?", "E se apanho uma gripe daquelas que me manda para a cama?", "E se gozam comigo porque sou uma fraquinha?", "E se no caminho me engano e sigo um caminho diferente e me perco?"...
O banho quente reconfortou-me, massajei os pés e as pernas doridas, jantei e dormi.

 
 
 
 
No dia seguinte, estavam programados 35km.
Sair da cama com as pernas a doer, com sono e a saber que se tem de andar 35km, não é muito fácil!!!
Mas depois de nos metermos nelas não há volta a dar. Toca a preparar o corpo e tomar um bom pequeno almoço. Mochila às costas e vamos lá com alegria.
Este percurso foi muito longo, as distancias entre as pessoas do grupo eram muito grandes, pelos ritmos diferentes de cada um. Neste dia tive uma experiência magnífica. Quando verifiquei que estava sozinha com as minhas sombras, com os meus pensamentos, com o meu ser, com os passarinhos, com a brisa da natureza, com os regos de água por baixo dos meus pés, com o calor das subidas, com as dores dos joelhos nas descidas... comecei a cantar em voz alta e foi tão bom!!!!
Que sensação enorme de paz e de liberdade! Foram muitos quilómetros assim, lindos, lindos.
 
 
 
 
 
 As duas últimas horas de andamento já foram de grande sofrimento.  Já estava esgotada, as dores nos músculos eram imensas, acho que descobri que tenho músculos a mais pois tinha dores em sítios que nunca tinha sentido.
Ver a placa do Albergue foi a melhor visão da minha vida!!! Finalmente podia descansar!!!
 
 


 
 
O 4º dia de caminhada foi o maior, foram 42km.
Por incrível que pareça,... neste dia ganhei uma energia tal... não sei de onde veio, mas apesar de ter muitas dores musculares, enchi-me de energia e lancei-me ao caminho surpreendendo-me a mim própria e surpreendendo o grupo.
Estava tão feliz, que as minhas pernas andavam, andavam, andavam como se tivessem ligadas à corrente.
Mas que corrente? Só pode ter sido a corrente da fé. Acredito que sim.
As minhas sombras acompanharam-me todo o percurso e nelas eu li o meu interior, refleti sobre o meu ser; como mãe, como mulher, como esposa, como profissional, como artista, como amiga, como irmã, como criança que ainda sou, como membro cvx, como paroquiana, como cidadã.
 
 


No caminho fazem-se amizades, partilham-se experiências, partilham-se sentimentos, há inter ajuda, há sorrisos, há brincadeiras, há alegria interior e exterior.

 
 
Descanso absoluto.
Foi na última noite que consegui descansar mais tranquila, foi aqui que senti que tinha conseguido cumprir a minha missão que era chegar a pé a Santiago.
Agora só faltava o melhor, a verdadeira sobremesa: Visitar a catedral, dar o abraço a Santiago, participar na missa do peregrino e regressar com o coração cheio de alegria.

 
Quilómetro zero na praça de Santiago de Compostela.
 Missão cumprida.

 
 

 
A alegria é tanta neste momento, que me integro num grupo de Valência e canto e danço com eles.
Que bom!!!
Valeu a pena.